O mexicano Antonio Sanchez é, atualmente, um dos mais criativos e atuantes bateristas do cenário jazzzístico. Desde que despontou no Pat Metheny Group no album Speaking of Now (2002, Nonesuch), tornou-se membro integrante fixo do trio do Pat Metheny e atuou nos palcos e estúdios sob a liderança de grandes mestres, como Gary Burton, Enrico Pieranunzi, Chick Corea, Miguel Zenon, o saudoso Michael Brecker, entre outros. Possui 2 discos lançados como lider, Migration (Cam Jazz, 2007) e Live In New York at Jazz Standard (Cam Jazz, 2010). E já tem encaminhado o terceiro disco, New Life, com previsão de lançamento para janeiro de 2013.
08/01/2013 – Ian Patterson, All About Jazz, Agosto de 2012 (tradução livre de Gustavo Cunha para www.33rotacoes.com, 28/12/2012)
Ian Patterson – Você também está na turnê com a Unity Band de Pat Metheny, qual a sensação de estar sempre no palco com esse pessoal?
Antonio Sanchez – É fantástico. A música é boa. Nem é complicado, mas há tantas coisas que voce pode tirar de letra e outras novas coisas para fazer todas as noites. Chris é formidavel. Nós tocamos juntos em várias formações e é gratificante tocar com ele e Pat no mesmo palco. Ben é super firme e é um grande prazer tocar com ele.
IP – Você conhece Potter muito bem e ele também tocou em seu album de estreia, Migration. Você já tinha tocado com Ben Willians antes?
AS – A primeira vez que toquei com Ben foi na gravação de guitarrista David Gilmore há alguns anos. Era um quinteto com o saxofonista Marcus Strickland e o pianista Luis Perdomo. Nós ainda não finalizamos aquela gravação. Dave está tentando juntar todos nós em estúdio para fazer mais alguns temas, mas tem sido difícil. Então nós fizemos alguns shows em trio com Pat Metheny na Florida e México e foi super tranquilo tocar com ele.
IP – Como é que você pega o jeito de um músico, como Willians, que voce tocou por tão pouco tempo? Quais as vantagens e desvantagens?
AS – Quando voce toca com pessoas que tem muito conhecimento e paixão por diferentes estilos de música, uma forte base e uma fácil personalidade musical, você percebe que é nuito facil encontrar um ponto comum para estabelecer sua comunicação com eles. O difícil é quando eles tem a mente fechada ou são de gerações diferentes com visões radicalmente diferentes sobre música. Ben é um músico exemplar, ainda bem.
IP – Você se coloca com Willians como seção rítmica ou voce vê todo o grupo como uma seção rítmica de quatro peças com obrigações individuais?
AS – Eu vejo o grupo como uma entidade flexivel. Muitas vezes estamos apoiando, outras vezes somos parte muito ativa nos solos de cada um do grupo. Eu sou um músico que interajo muito, então muitas vezes é bom quando Ben deita sobre uma base e então eu posso fazer minhas coisas com o solista. Sempre tento ser solidário, não importa o que esteja acontecendo.
IP – Como é tocar com a Orchestrion?
AS – É muito divertido ouvir todas aqueles sons atrás de nós enquanto estamos tocando. Eles soam como um grande ensemble e isso é legal, são muitas e diferentes texturas no meio de tudo. E é interessante ter muita gente na banda que não precisa ser alimentada e que nunca se cansa!
IP – A música no CD tem cerca de uma hora. Vocês estendem os temas nos shows ou tocam outros temas que não sejam da Unity Band?
AS – Nos shows somente tocamos a música do CD. Às vezes estendemos os temas e outras vezes nós mantemos o mais próximo possivel da gravação em relação ao tempo. Pat geralmente entretem o público e decide quando estender um tema ou não. Ele é bom em ditar o rítmo. E nós também adicionamos uma sessão ao fim em que Pat toca com algum de nós separadamente em duos, o que dá uma outra dimensão à coisa toda.
IP – A música da Unity Band impressiona como altamente melódica. Você diria que esse é o ponto forte e Metheny, ou talvez mais uma qualidade distinta de compor?
AS – Eu acho que definitivamente é o ponto mais forte de Pat. Ele pode colocar muita complexidade em sua música e graças a isso ele pode amarrar tudo com uma melodia simples e bonita que faz todo o sentido. E na minha opinião, isso é realmente difícil de se fazer.
IP – Metheny foi só elogios a você quando ele descreveu sua presença no Pat Metheny Group como “uma das mais significantes mudanças no grupo em 28 anos de história”. O quanto o PMG influenciou voce como músico e compositor?
AS – Imensamente. Não somente como PMG, mas trabalhar com Pat em um monte de diferentes projetos – o PM Trio com Christian McBride por alguns anos, o Gary Burton Quartet Revisited por algumas turnês, e agora com a Unity Band. Tudo isso me ensina muitas coisas novas e me inspira em diferentes caminhos como músico e compositor. Eu gravei meu terceiro album intitulado “New Life” e é todo autoral. O PMG foi uma grande inspiração para escrever temas mais complexos com mais sessões e orquestração. Em “Migration”, eu escrevi muitos dos solos de cabeça. Agora estou tentando expandir isso e orquestrar as coisas para fazê-las soarem maiores e mais cheias. Eu tambem incluí piano porque é como eu componho. É engraçado porque em “Migration” eu decidi não usar piano mesmo embora eu tenha escrito todos os temas desse jeito.
IP – O processo de composição do album “Migration” mudou sua forma de tocar de algum modo?
AS – Eu penso que todo novo projeto muda minha forma de tocar de alguma maneira porque estou sempre me adaptando a nova música. “Migration” foi uma grande experiência e um aprendizado para mim porque, mesmo embora eu fosse o líder, eu não queria que soasse como uma gravação de um baterista, então eu realmente tentei fezer o melhor, espero que tenha conseguido.
IP – A última apresentação do Pat Metheny Group no Montreal Jazz Festival em 2005 tinha cerca de 100.000 pessoas. Qual foi a sensação de tocar para uma multidão dessa magnitude?
AS – Realmente surreal. Quando há muitas pessoas assim, voce apenas vê uma monte de gente na sua frente, voce não distingue rostos. Para mim, atualmente é mais intimidador tocar em um pequeno clube de jazz onde voce pode ver e ouvir as reações das pessoas. Tocar para grande públicos é fantástico por causa da energia que passam de volta, mas são nos pequenos públicos que voce tem mais interação com o público.
IP – Já tem um longo tempo desde a última gravação do PMG, voce sabe se há planos para um novo CD ou turnê?
AS – Eu acho que já é hora de um novo projeto do PMG. A situação da economia global tornou tudo mais dificil para as turnês como costumávamos fazer porque pe uma grande operação que envolvem muitos equipamentos e pessoas, mas eu acho que Pat está com a intenção de fazer isso novamente. Não há nada tão próximo em termos das expectativas dos fãs, todos desejam isso.
IP – Sua bateria na Unity Band soa extremamente sutil e em muitas das suas gravações elas soam tão sutil quanto propulsora. Você sempre tem essa leveza no toque.
AS – Isso aconteceu com o tempo. Quando eu costumava tocar com o pianista Danilo Perez, nós faziamos shows em trio e muitas vezes eu tinha que tocar dessa forma, mas com muita intensidade por causa da música e dos locais em que estávamos tocando. Aquilo me ajudou em termos de pegada. Eu tinha que tocar com muito desse brilho e propulsão ao mesmo tempo. Isso agora é parte de mim e levo a todos os projetos que participo.
IP – Você recentemente finalizou a masterização de “New Life”, seu novo CD como lider. Pode nos contar quem toca com você o que podemos esperar desse novo trabalho?
AS – A banda é fantástica. David Binney no alto, Donny McCaslin no tenor, John Escreet no piano e rhodes e Matt Brewer no contrabaixo. Nós fizemos uma turnê de cinco semanas e meia no último outono e tinhamos todas as músicas que queriamos gravas prontas, então nós as tocamos muito antes de entrar no estúdio em Janeiro. Sem aquela turnê não acho que a teriamos conseguido fazer tão bem como fizemos.
Como eu disse, são temas autorais e um grande passo para mim como compositor. Os temas são muito envolventes, orquestrados e eu realmente me esforcei muito neles. Eu quis fazer um album que fosse convincente, desafiador e acessivel aos ouvintes. E conseguimos balancear todas essas coisas. Eu quero que um músico de jazz goste, mas tambem minha mãe e meu avô também gostem, se voce entende o que quero dizer. Acho que há material melódico suficiente que as pessoas podem se identificar e complexidade suficiente para manter um ouvido mais treinado e interessado. Provavelmente sai em Janeiro de 2013.
IP – Isso é algo que todos nós vislumbramos. Qual o sentimento sobre ao grupo após gravar e excursionar e voce vê a Unity Band gravando novamente?
AS – Seria fantástico. Quando voce chega aos 30 shows é que começa a realizar todo o seu potencial. É uma questão de momento. Isto podia, definitivamente, ser um projeto contínuo porque nós ficamos à vontade com pequenos grupos. Nós tocamos em locais pequenos e grandes também e sempre é maravilhoso. Chris incendeia e Pat também. Ter esse dois caras na linha de frente é demais, e voce também pode tocar uma bela balada de um jeito bem tranquilo. Pra mim, o céu é o limite.